Anandamida (o "Barato" de Graça)


A membrana plasmática assim, tão insuspeitada, parecendo somente um envoltório celular, tem variadíssimas missões na vida.
Uma delas é ser um repositório celular de moléculas inflamatórias, através da quebra de uma parte da molécula dos fosfolipídeos (o padrão da molécula de gordura que compõe o "grosso" da membrana) pelas enzimas chamadas - justamente! - de fosfolipases ("quebradoras" de fosfolipídeos).
Essa reação de quebra isola uma molécula do resto dos fosfolipídeos: o ácido araquidônico, um ácido graxo com 20 carbonos que, através da transformação pelas "famosas" enzimas COX (ciclo-oxigenases) e (menos famosas) LOX (lipo-oxigenases), geram moléculas chamadas eicosanoides ("eicosa" é o prefixo para vinte, o número de carbonos de todas elas): principalmente as prostaglandinas, tromboxanes e leucotrienos, com variadas e importantes funções nas reações inflamatórias e alérgicas.
Já a reação do mesmo ácido araquidônico com uma molécula orgânica também presente em alguns dos próprios fosfolipídeos da membrana, a etanolamina (uma molécula "simplezinha" com dois carbonos, uma ponta hidroxila, OH, outra ponta amina, NH2) gera um composto muito interessante: a anandamida, uma molécula que ainda não é "top", mas vai chegar lá.
Por que?
Porque tem se descoberto que a anandamida (ananda vem do sânscrito, que significa "alegria", "prazer") é uma molécula com mesmos efeitos (da parte boa!) dos canabinóides, como a maconha (uma "erva" produzida pelo seu próprio cérebro!). Ela age nos receptores que existem no cérebro (mas também em outros órgãos) que, claro, de outra forma não teriam razão para existir onde a droga age.
Há muito estudo em andamento sobre a anandamida (perdão pela aliteração!). Alguns, por exemplo, mostrando que a anandamida deve ser a verdadeira "culpada" pelo efeito chamado "runners high", o "barato" da atividade física sustentada como a corrida (mais do que a endorfina, que vinha sendo identificada como a responsável).
Efeitos da molécula (quase todos benéficos) em condições como Alzheimer, câncer e outras também têm pipocado na literatura médica.

Há fontes alimentares de anandamida. Não vou me estender, mas há uma curiosidade: a verdadeira trufa (fungo comestível) e a trufa de chocolate (nome derivado da semelhança com o fungo) são ambos boas fontes de anandamida.

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