Solução Tampão II


Os mecanismos de ação de uma solução tampão são muito simples.
Ainda assim, muita gente boa tem dificuldade de compreendê-los (ou, quando se compreende, têm alguma dificuldade para reter os conceitos).
Se você quer realmente entender como funciona uma solução tampão (e não jogá-la para o setor "decorebas sem compreensão", que costuma ser a pior saída), tem que ter em mente três conceitos (desculpe o trocadilho!) básicos:

O primeiro é entender o que significa ácido e base fracos, e porque são eles os constituintes da dita solução. 
Você só pode construir uma solução tampão com ácido fraco (ou base fraca) porque ser "fraco" não tem nada a ver com nosso conceito intuitivo de forte ou fraco (por exemplo, algo que corrói ou não):
Um ácido fraco quer guardar seu íon hidrogênio para si, como uma molécula inteira (ex.: CH3COOH, ácido acético, um ácido orgânico, com oxigênio na fórmula, que como todo ácido orgânico é fraco), sem dissociar, ou seja, sem "se desgarrar" desse íon hidrogênio (no caso do hidrogênio esse íon positivo é chamado de "próton", porque o que prevalece no átomo hidrogênio ao se separar do seu ânion - por exemplo, do ânion CH3COO no ácido acético - é sua carga positiva de um único próton no núcleo atômico). Essa concessão, esse "desgarramento" do H só acontecerá quando a solução estiver funcionando (como tampão, então) para neutralizar uma base forte (alguma molécula com carga muito negativa, negativa suficiente para "arrancar" o hidrogênio do ácido fraco - neutralizando a base adicionada a essa solução).
Outro conceito fundamental é entender (o que parece óbvio, mas...) é que há sempre dois lados dessa solução (tentando achar seu equilíbrio): o lado em que o ácido (ou a base) estão inteiros (não dissociados) e o lado em que - mesmo muito pouco - estão dissociados.
No exemplo do ácido fraco acima (ácido acético), quando agora um novo ácido (forte, que faria estragos, pois liberaria muito hidrogênio para o meio acidificando esse meio rapida e intensamente, baixando o pH) é acrescentado é o "lado dissociado" (mesmo bem pouco dissociado, em CH3COO e H) que entra em ação para neutralizar esse ácido forte introduzido. 
O que ela (a solução tampão) faz?
"Puxa" (desequilibra momentaneamente) a equação um pouco mais para o lado dissociado (onde está a base fraca, C3HCOO, que por ser fraca também não "gosta" de se combinar com muitos H do meio, "quer sempre ser base", um íon sempre negativo*, na medida do possível), forçando-a a reagir com esse ácido forte acrescentado (mais especificamente com o hidrogênio fruto da grande dissociação desse ácido forte), também conseguindo dessa forma neutralizá-lo (mantendo assim o pH mais perto da faixa da neutralidade).
(* Lembre-se: uma base é sempre um ácido que perdeu sua carga positiva, seu H, tornando-se um ânion, de carga negativa, uma... base! - chamada de base conjugada do ácido que deu origem a ela)
O terceiro conceito: quando a solução tampão é formada por uma base (sempre) fraca (e seu ácido - conjugado, pois vem dessa base mais um hidrogênio), funciona da mesma forma: acrescenta ácido forte, a base fraca "se força" a doar alguns OH (íons hidróxidos) a mais (coisa que ela "não gosta", mas "vá lá"!) formando H + OH = água, neutralizando o ácido forte até certo ponto.
Quando é base forte (aquela que "enche de OH", de cargas negativas, o meio) a ser acrescentada, a equação de novo se desequilibra momentaneamente para o lado do ácido conjugado (a princípio "fraquinho", da solução tampão) forçando-o a ser "um pouco mais forte", também doando seu H (também meio de má vontade, mas precisa!) para essa grande carga de OH do meio reagir com esse hidrogênio formando... água! (neutralizando a base, até onde a solução consegue).


Ácidos e bases (fracos e fortes), neutralização, equilíbrio da reação... São os conceitos que devem estar firmes, solidificados, para que se possa compreender essa história de "tampão"!

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