Digestão das Gorduras II (Há Gorduras e "Gorduras"!)
Habitualmente, quando se fala em digestão e absorção de gorduras, se explica sobre o trajeto diferenciado das gorduras em relação à proteínas e carboidratos (através da via linfática, inicialmente - pelo "tamanhão" dos quilomícrons, inviabilizando a absorção portal - para só depois serem distribuídas para a via sanguínea).
Acontece, no entanto, que a maioria dos alimentos é composto de um "mistão" de ácidos graxos (ou seus triglicerídeos). E, embora na grande maioria desses alimentos gordurosos as cadeias carbônicas sejam longas, em alguns alimentos (leites ou derivados, principalmente), alguns dos triglicerídeos (não mais que 20% deles) possuem cadeias carbônicas de menos que 12 carbonos (se falou muito do leite da cabra no passado, por isso alguns desses ácidos graxos têm "cabra" no nome: cáprico, de 10 carbonos, caprílico, de 8 carbonos e capróico, de 6 carbonos).*
Para esses ácidos graxos menores, tanto o caminho é simplificado (acompanham carboidratos e proteínas no sistema portal em direção ao fígado), quanto não necessitam dos sais biliares para sua absorção (são mais fluidos e mais facilmente digeridos, portanto).
Não se deve esquecer que: 1) a maior fonte de triglicerídeos vem da transformação dos carboidratos da dieta (não das gorduras), 2) é muito difícil relacionar a presença de diferentes "tamanhos" de cadeias carbônicas nos ácidos graxos (ou sua saturação) presentes na dieta com os achados em análises das gorduras corporais (o mais frequente o ácido oleico, monoinsaturado com 18 carbonos) e 3) diferentes áreas do corpo (principalmente visceral vs. subcutâneo) possuem perfil de gorduras (pouco) diferentes (as viscerais mais saturadas, as subcutâneas mais monoinsaturadas).
*Ácidos graxos com 2 a 5 carbonos são chamados de ácidos graxos de cadeia curta, e tanto não têm cara de gordura (voláteis como o conhecido ácido acético, de apenas 2 carbonos), quanto provêm da fermentação bacteriana das fibras solúveis no intestino grosso.
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