Síntese dos Ácidos Graxos
Há dois processos muito semelhantes no que diz respeito aos ácidos graxos: a sua criação (ou síntese) até palmitato (o ácido graxo saturado "padrão", com 16 carbonos) e o chamado alongamento, normalmente a colocação de até mais dois carbonos no palmitato (raramente no organismo humano se encontra ácidos graxos muito maiores que 18 carbonos).
O processo da síntese é um pouquinho "enrolado", por isso vamos devagar:
O chamado "complexo enzimático" ácido graxo sintase é uma enzima grande que realiza várias ações diferentes até o resultado final. Ela possui duas subunidades idênticas (cada uma com sete atividades catalíticas) e uma parte (ou segmento) chamada ACP ("acyl carrier protein", proteína carreadora do grupo acila), onde o ácido graxo em formação restará "pendurado" até a liberação final.
No passo inicial da síntese (que lembra a montagem de um móbile), o grupo acetila (2 carbonos) de uma acetilCoA é transferido (fica, digamos, "pendurado" - numa ligação tioéster, um éster com átomo de enxofre) para uma das subunidades ACP da enzima, e é logo transferido para uma outra parte da enzima, um resíduo (parte da enzima) do aminoácido cisteína (onde fica também "pendurado", também pela presença do átomo de enxofre). Aí vem uma malonilCoA (lembre, igualzinho a uma acetilCoA, apenas que com mais um carbono) e também "se pendura" (sempre em ligação tioéster) na parte ACP da enzima "recém-vaga" pela acetila que se mudou.
Nesse momento, uma reação de condensação ocorre (com liberação de um carbono dos cinco envolvidos, na forma de CO2), juntando essas duas moléculas (a acetil da acetilCoA e a malonilCoA, formando um grupo chamado beta-cetoacila, mas pode esquecer esse nome!) com quatro carbonos, ainda "pendurados" na enzima.
O que acontece com esse novo (e maior) "penduricalho"?
Sofre, ali mesmo, três diferentes reações (por isso a ácido graxo sintase é um "complexo enzimático"!): uma redução do grupo cetona do quarto carbono à álcool, depois a remoção de uma molécula de água para formar uma dupla ligação, para após reduzir essa dupla ligação (três reações com dupla finalidade: remover uma carbonila - C=O - "de sobra" e remover uma dupla ligação, também "de sobra", que não existem na molécula final do palmitato). Em duas dessas fases o NADPH fornece os equivalentes redutores (é ele, então, oxidado) para que as reações (que são, claro, de redução) aconteçam.
Resultado desse trabalho todo? O alongamento do grupo acetila original em mais dois carbonos!
A enzima, então, transfere essa cadeia alongada para a outra parte dela (novamente o mesmo resíduo cisteína) para receber ("pendurar") novamente mais uma malonilCoA na ACP - e o processo todo recomeça, com a condensação dessa nova malonilCoA na parte já existente e com o acréscimo de 2 carbonos por vez até atingir os 16 carbonos do palmitato (sete ciclos no total). Como toque final, ocorre a liberação (hidrólise) do palmitato.
(No alongamento, que ocorre no retículo endoplasmático liso, a diferença é que a enzima ácido graxo sintase não participa; o próprio palmitato se associa à uma coenzima A, formando palmitato-CoA, que também recebe os dois carbonos da malonilCoA para que a haja a condensação)
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