Colesterol (O Bom, O Mau e O "Feio")
Esse é um tópico para altíssimas (e fervorosas) discussões.
A história da correlação entre os níveis de colesterol e a presença de doença cardiovascular começou (e logo surtiu enormes efeitos) já com uma tremenda mentira!
Estudos iniciais a respeito tomaram como referência populações onde a relação verdadeiramente existia como um aparente fator causal (como nos Estados Unidos e Inglaterra), deixando de lado ("esquecendo", sonegando) dados populacionais onde essa relação não existia (principalmente em países mediterrâneos).
E a partir daí, estratégias "apressadas" de tratamento tanto da indústria farmacêutica quanto da indústria alimentícia (que pegou carona no pânico criado) foram "se aperfeiçoando" no sentido de fazer baixar o colesterol (total, no caso, até recentemente).
A posterior descoberta de que havia partículas diferentes (lipoproteínas) com diferentes significados melhorou um pouco a situação. É o que se tem ainda como conhecimento corrente: o de que o LDL é o "mau colesterol", o HDL o "bom colesterol" e de que a dosagem do colesterol importa!
Mas era ainda muito pouco para explicar as distorções verificadas.
As pesquisas recentes vêm dando maior ênfase nos subgrupos das lipoproteínas. LDL (o "vilão"), por exemplo, não é "tudo igual", muito pelo contrário. Partículas grandes, pouco densas de LDL não causam doenças cardiovasculares. Partículas pequenas, densas, "oxidadas", sim! Além do mais, na patogênese da doença aterosclerótica (o "endurecimento" das artérias, com a formação das "famosas" placas) mostra que o número de partículas de LDL circulante importa, e muito. É praticamente uma questão de saturação sanguínea dessas partículas que, sem receptores suficientes onde seriam normalmente degradadas (fígado), se deslocam mais facilmente para dentro do endotélio vascular lesado.
Infelizmente, métodos atuais de dosagem ainda tratam todo LDL como um "pacotão", como uma coisa só (além de não medir o número de partículas), o que contribui para o desencontro nos dados de fisiopatologia verficados na prática (e induz muita gente a tratamentos desnecessários e custosos, além dos perigos dos efeitos colaterais).
Outro detalhe importante meio desprezado até recentemente é o papel fundamental da inflamação na doença, onde tudo começa.
Doenças vasculares precisam de uma base inflamatória, uma lesão onde (somente aí) o colesterol circulante possa aderir, justamente pela interpretação orgânica de que "onde há necessidade de construção celular (reparo dos danos, ou seja, inflamação), há necessidade da presença do colesterol (para construção de membranas celulares)", e é isso o que acontece (li em algum lugar que "interpretar a causa da aterosclerose como provocada pela presença de colesterol no local é como interpretar as ambulâncias como causadoras dos acidentes onde elas se encontram").
Um grande foco no tratamento e prevenção da doença cardiovascular (como já sugerido pela chamada síndrome metabólica) não deve ser, então, na ingestão ou não de gorduras (ou mais exatamente do colesterol), mas sim nas dietas com altos índices glicêmicos, em alimentos processados. São elas as indutoras de altos níveis de insulina (o principal hormônio envolvido na síntese do colesterol em excesso), de hiperoxidação e de inflamação disseminada pelo organismo como um todo, inclusive nas artérias coronárias.
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