Colesterol
Se tem um assunto que dá pano pra manga é esse tal de colesterol!
(mas se fala muita inverdade sobre ele)
As verdades que você deve saber:
Que é muito mais "herói" que "vilão" (formador de parte importante da membrana plasmática, da bainha de mielina dos nervos - cerca de 30% colesterol - e precursor de vários hormônios, vitaminas lipossolúveis e sais biliares).
Que, ao contrário do que se costuma pensar, vem muito pouco do colesterol da dieta (há mecanismos importantes de regulação da absorção intestinal), mas com uma dieta com excesso de macronutrientes (principalmente carboidratos), com o aumento de insulina gerado, há grande aumento da síntese endógena dele (a síntese do colesterol é induzida pela insulina porque sempre que há estímulo para multiplicação celular - notadamente com mais formação de membrana - há necessidade de colesterol, como na gravidez, na puberdade, na primeira infância, ou... no excesso de nutrientes, pois nosso organismo interpreta abundância como sinalização para multiplicar!). Além disso, de longe a maior parte da absorção intestinal se dá, na verdade, por reabsorção do colesterol presente nos sais biliares excretados.
Que todas as células são capazes de sintetizá-lo, mas as células hepáticas e as células responsáveis pela síntese hormonal (gônadas, supra-renais) são as maiores "fábricas".
Que o colesterol não é gordura, apesar de ser feito dos mesmos átomos (carbono, hidrogênio e oxigênio). É composto de uma grande estrutura cíclica (3 ciclohexanos não benzênicos, isto é, carbonos saturados por átomos de hidrogênio sem a alternância da dupla ligação, associados a um ciclopentano - mas pode chamar carinhosamente de "3 quartos e um banheiro"!), o núcleo esteróide (o verdadeiro "núcleo duro" da molécula, responsável por consistência cérea, de cera - "stereos" vem do grego: sólido), que dá alguma solidez à membrana sem, no entanto, se comparar à rigidez da parede celular vegetal.
Que justamente essa "geometria dura" da molécula faz com que, depois de criada, não se consiga desfazê-la dela (oxidá-la para produzir energia, como no caso das gorduras). Por isso, a inteligência do organismo: que sentido teria absorver mais colesterol do que o necessário, já que não há como "se livrar" dele depois?
Que não precisamos comer "um pingo" de colesterol para termos o suficiente no organismo (não é nutriente essencial, que precisa vir da dieta). Vegetarianos, por exemplo, podem ter colesterol elevado, mesmo o colesterol tendo como fonte os alimentos de origem animal.
Que certos alimentos são especialmente ricos em colesterol como ovos, laticínios, órgãos glandulares (fígado, especialmente) e cérebro. Ou são órgãos ricos em colesterol (a bainha de mielina no sistema nervoso contém colesterol como isolante elétrico, motivo pelo qual o cérebro nunca virou um prato especialmente apreciado na culinária) ou - como no caso do leite de vaca e do ovo - são fornecedores do colesterol para organismos em rápido crescimento (o terneiro e o pintinho!).
Que a molécula como um todo é (bem) levemente anfipática, pela presença da hidroxila na "pontinha" da molécula (e, que quando esterificada, como 90% do colesterol da dieta, perde também essa pequena "parte hidrofílica", adquirindo uma nova longa cauda carbônica, impedindo assim a absorção pelas células intestinais - o colesterol dos sais biliares, ao contrário, é "livre", não-esterificado, por isso mais facilmente reabsorvido, assim como a maior quantidade de colesterol no organismo, ou seja, aquele presente nas membranas plasmáticas).
Que o "colesterol total" medido em exames laboratoriais é o colesterol livre (não-esterificado) presente na somatória das lipoproteínas (HDL, LDL, VLDL, etc.), e que ele é apenas perto de 30% do colesterol presente nestas partículas (70% é esterificado), daí a pouca utilidade do colesterol total como preditor de doenças cardiovasculares.
Que são trinta "trabalhosos" passos para o organismo "criar" colesterol (a partir do isopreno, uma molécula alifática),
e que o passo mais importante é o terceiro, a conversão do HMG-CoA em mevalonato pela enzima HMG-CoA redutase (o passo regulador da síntese, estimulada pela presença de insulina e de baixos níveis celulares de colesterol, e onde as medicações chamadas estatinas atuam).
Que estatinas, então, bloqueiam a produção de colesterol, mas terminam por bloquear também a síntese de vários compostos derivados, como vitaminas e coenzimas, ou mesmo hormônios (sendo que a forma "natural", não-medicamentosa - e gratuita! - de reduzir o colesterol é reduzir a ingestão de... carboidratos, especialmente!).
Comentários