Cálcio, íon



Pra que você entenda parte da grande importância do íon cálcio (divalente, carga duplamente positiva) no organismo, é bom que você sempre lembre que esse cálcio é um "cara carente" (ou talvez, mais politica e bioquimicamente correto, um "agregador"): não pode ver uma carguinha negativa em proteínas (tanto intactas quando degradadas) dando sopa, e ele já vai logo se "grudando" (um exemplo muito característico é o da sua ação na cascata da coagulação - cálcio é o fator de número IV - onde serve como uma "presilha" de várias cargas negativas das proteínas envolvidas).
E é bem por isso que sua medição "total" (comumente realizada nos laboratórios) diz pouco. Na maioria das vezes, é apenas a fração ionizada (não a ligada às proteínas) a que gera sintomas do seu excesso (hipercalcemia) ou falta (hipocalcemia), sem alterar o valor total (ionizado + ligado às proteínas).
Dois casos comuns na prática clínica alteram a fração ionizada (de novo, sem alterar o cálcio total): 1) a menor quantidade de albumina (hipoalbuminemia), a principal proteína plasmática, faz com que mais cálcio fique "solto" (ionizado, justamente por não haver albumina suficiente para mantê-lo não ionizado, "colado" nela), gerando possíveis sintomas de hipercalcemia, e 2) alterações do pH: a alcalose, por exemplo, significa menos íons hidrogênios (prótons) presentes no meio, "obrigando" parte dos prótons da albumina a se separarem dela, na tentativa de compensar a menor presença dos prótons do meio alcalótico (a transformando em um ânion proteico). Mais cargas negativas nessa albumina desprotonada, lá vai o "carentão" cálcio se agregar a ela, diminuindo a disponibilidade de cálcio iônico (livre) no plasma, gerando a hipocalcemia (sempre com cálcio total normal!).

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